No início
desse ano tivemos o Garotas de Papel teve o prazer de firmar uma parceria com a baiana Diana Scarpine, autora de Uma Chance Para Recomeçar e Entrelace: Caminhos que se Cruzam ao Acaso.
Os dois livros trazem protagonista que saem dos padrões, principalmente estéticos,
trazidos por boa parte das narrativas. Com
personagens psicologicamente complicados e com algum tipo de deficiência física,
Diana revela que foi a falta de representatividade e por sempre ser tachado que
deficientes são infelizes, que levou ela a escrever romances que desmitifiquem
isso.
Nessa
entrevista vocês poderão conferir, mas sobre seu processo criativo, seus livros
e também como foi sua entrada no mercado editorial.
Diana Scarpine |
Garotas
de Papel: Como surgiu a vontade de escrever um livro?
Diana Scarpine:
A vontade de escrever surgiu quando eu tinha 12 anos de idade. Naquela época,
eu não me sentia representada pelos livros que eu lia e gostava muito das aulas
de redação do colégio; mas eu não comecei a escrever aí, porque achava que,
para ser escritor, era necessário viver grandes aventuras para ter o que contar
e minha vida era comum (ainda é. rsrs). Então, um ano depois, eu assisti a um
filme antigo (já era antigo na época) chamado “Adorável Sedutora” (“Her
Alibi”), que conta a história de um escritor atrapalhado que está vivenciando
um imenso bloqueio criativo. O mais importante que percebi no filme é que os
escritores são pessoas comuns, que não precisamos viver grandes aventuras para
escrever um livro. Foi aí que comecei a escrever: aos 13 anos de idade. Com o
tempo, percebi que grandes histórias podem estar no cotidiano das pessoas
comuns e que estas histórias podem encantar e emocionar.
GP:
Quando você escrever segue algum ritual, por exemplo escrever ouvindo música?
DS: tenho um ritual, mas
escrevo geralmente à noite quando me sobra um tempinho (nem sempre sobra), pois
ainda não consegui me dedicar totalmente à literatura e tenho outras atividades
(ainda não consegui viver de literatura). Mas não escrevo ouvindo música. As
músicas surgem na história a partir dos sentimentos dos personagens. Eu me
pergunto: o que eu ouviria se estivesse nessa situação? O que embalaria a minha
dor, a minha alegria, o meu romance? Foi assim que Chão de Giz de Zé Ramalho se
tornou a principal música de Uma Chance Para Recomeçar e que Always on My Mind
(Elvis) se tornou a principal música de Entrelace: Caminhos que se Cruzam ao
Acaso.
GP: Seus
dois livros publicados trazem personagens com algum tipo de deficiência física,
o fato de estudar isso te incentivou a escrever sobre o assunto ou tem outra
motivação?
DS: Estudar sobre deficiência
me ajuda muito a escrever e compor meus personagens; mas o principal motivo é o
fato de eu ter uma deficiência física. Lá na pré-adolescência (13 anos), eu não
encontrava personagens com deficiência nos livros que lia ou, quando os
encontrava, a deficiência era mostrada como um fardo tão pesado que o final
feliz só acontecia depois que a pessoa se livrava milagrosamente da
deficiência, como se ser feliz com uma deficiência fosse algo impossível (não
é). Então, comecei a criar personagens com deficiência para me sentir
representada, diminuir a sensação de invisibilidade que eu tinha. Com o tempo,
percebi que não bastava me sentir representada, eu precisava também discutir
questões relevantes que permeiam o universo das pessoas com deficiência como o
preconceito. Foi aí que isso se tornou para mim um projeto literário e uma
forma de militância.
GP: No
início de Uma Chance Para Recomeçar temos um poema seu com o mesmo nome do
livro, ele foi um gancho para a história ou foi escrito depois?
DS: Ele foi escrito depois,
já no final da história; pois senti que Carina e Aurélio também precisavam de
um poema para ilustrar sua história. No caso de Entrelace, o poema é anterior,
foi escrito 13 anos antes da história; mas, quando ela surgiu, eu soube que
aquele era o poema certo para Carol e Henri.
GP: Você
já tinha uma ideia geral de como seria o desenrolar de Uma Chance Para
Recomeçar ou tudo foi surgindo enquanto escrevia?
DS: Quando comecei a
escrever, tinha uma ideia geral de como a história seria; mas tive um imenso
bloqueio criativo no meio da história, daqueles que dá vontade de deletar tudo
que você escreveu e jogar a história fora. Foram vários meses me questionando
se eu devia contar essa história e por que ela não estava me agradando naquele
momento. Percebi então que o que faltava era tornar a história mais complexa,
mais crua, mais real e foi isso que eu fiz.
GP: Carina
e Aurélio são pessoas muito diferentes, com personalidades completamente
opostas e a narração intercalada entre eles deixa isso muito claro. Algum deles
deu mais trabalho quando escrevia?
DS: Aurélio me deu mais trabalho, tanto pela
questão da culpa e pela tragédia que foi ter perdido tudo que ele amava e
considerava importante; mas, principalmente, pela deficiência visual. Eu tenho
estudado deficiência de uma forma geral, mas atualmente tenho focado muito em
deficiência física (minha tese de doutorado é sobre deficiência física e
Tecnologia Assistiva e na graduação tinha focado em deficiência intelectual) e,
apesar de ter participado de alguns eventos sobre deficiência visual, eu tenho
uma deficiência física e eu precisava descrever as cenas e falar dos
sentimentos sob a óptica de alguém que tem deficiência visual. Então, comecei a
observar mais criteriosamente os cegos e a fazer “laboratório” em casa (andar
pela casa de olhos fechados e tentar me localizar, identificar as coisas) e aí
o mundo como Aurélio o vê se tornou mais real, mais palpável para mim e eu o
coloquei no papel.
GP: Uma
das coisas que me chamou muito a atenção em Uma Chance Para Recomeçar é a
referência a série Irmandade na Adaga Negra, pois é uma série que gosto muito.
Você também é uma fã desse universo criado pela J.R. Ward?
DS: Sim, eu gosto da série da
Irmandade da Adaga Negra e já a li quase toda, mas não por ser uma série
erótica. O que me fez ler a série e a gostar dela é o fato de que seus
personagens principais não são perfeitinhos. Apesar de os irmãos fazerem o
estilo “macho saradão”, eles não são
perfeitos (o rei tem baixa
visão/cegueira, Raghe tem uma besta dentro de si, Z tem cicatrizes pelo corpo,
Phury é amputado, etc.) e, quando ela coloca uma deficiência ou trauma
psicológico nos irmãos, de uma certa
forma, ela quebra um pouco este estereótipo de perfeição e beleza dos homens
nos livros. Gosto também da escrita dela, da forma como ela consegue concatenar
vários personagens e histórias.
GP: Quais
autores você tem como referência?
DS: A minha principal referência é Machado de
Assis; pois amo a maneira como ele conversa com o leitor, o faz participar da
história e também a forma como desnuda a psicologia dos personagens. Gosto
também da crônica social que Jorge Amado faz e também do fato de ele colocar a
Bahia como cenário. Gosto também da escrita de Clarice Lispector, da forma
intimista e delicada com que ela aborda os sentimentos dos personagens. Entre
os autores internacionais, cito Susanna Kearsley e sua escrita poética e
Jan-Philipp Sendker pela forma delicada como ele expõe os sentimentos dos
personagens.
GP:
Ainda é muito complicado o destaque que as grandes editoras e livrarias dão aos
autores nacionais mais novos. Como foi sua caminhada diante desse cenário até ter
seu livro publicado por uma editora?
DS: Não foi fácil e ainda não é; porque as
editoras valorizam muito mais os livros e autores internacionais, o que é uma
pena porque há muito autores nacionais bons que ainda não possuem o reconhecimento
que merecem. Mas eu acho (ou, pelo menos, espero) que as coisas estão
melhorando um pouquinho. Quando comecei a escrever, não pensava de fato em
publicar (escrevia para eu mesma ler); pois não via publicações nacionais além
daquelas de autores mais antigos e consagrados (eu não via publicações de novos
autores). Em 2012, quando publiquei a primeira edição de Entrelace, já havia
autores nacionais batalhando no mercado e hoje existem muitos mais e alguns
deles já conseguiram publicar até por grandes editoras. Então, a sensação que
eu tenho é que, se no passado, as portas das editoras estavam hermeticamente
fechadas para nós, autores nacionais, hoje há uma pequena brecha nessa porta,
por onde alguns de nós já conseguiram passar.
GP:
Como tem sido o papel dos blogs parceiros para a divulgação do seu trabalho?
DS: O papel dos blogs parceiros é muito
importante, pois eles me ajudam a divulgar e dar visibilidade ao meu trabalho.
Eu tenho lido resenhas lindas e muito bem elaboradas tanto de Uma Chance para
Recomeçar quanto de Entrelace: Caminhos que se Cruzam ao Acaso e isso me deixa
muito feliz, me dá a sensação que eu estou conseguindo fazer as pessoas se
divertirem, mas também refletirem sobre as questões referentes à deficiência.
GP: Diana
eu estou completamente encantada por seu trabalho e claro que fico na
expectativa de ler mais livros seus, por isso para quando eu, seus leitores e
futuros leitores podem esperar um novo livro?
DS: Eu estou com um livro em
andamento. Na verdade, estou reescrevendo um livro que escrevi em 2000 (17 anos
atrás); mas, como estou mudando muita coisa, o título também será mudado.
Então, ele ainda não tem nome e não tenho uma previsão de quando ele será
publicado, mas ele vai sair.
Aproveito a oportunidade
para agradecer a Thiana do Blog Garotas de Papel pela oportunidade de
participar dessa interessante entrevista e para convidar os(as) leitores(as) do
Blog Garotas de Papel a conhecerem os meus livros “Entrelace: Caminhos que se
Cruzam ao Acaso” e “Uma Chance para Recomeçar”.
Oi Thiana, tudo bem ?
ResponderExcluirEU já vi a resenha deste livro em alguns lugares e de certa forma me chamou a atenção. Gostei da entrevista, é sempre bacana saber como pensa o autor e de onde vem as suas inspirações, rituais de escrita e etc.
Bem legal.
Beijos
www.estilo-gisele.blogspot.com.br
Oi Gisele,
ExcluirÉ sempre bacana mesmo, até eu fui surpreendida por algumas coisas nessa entrevista. rsrsrs
Espero que possa ler e apreciar os livros da Diana.
Bjs
Adorei participar da entrevista, Thiana!
ResponderExcluirAbraço,
Diana Scarpine.
Obrigada, Di.
ExcluirBjs
Oie...
ResponderExcluirAdorei a entrevista!
Já conversei com a Diana via e-mail e ela é um verdadeiro amor de pessoa! Muito simpática <3
Gostei bastante de UMA CHANCE PRA RECOMEÇAR e acho que a autora tem bastante talento. Adorei saber que ela, assim como eu, é fã de Machado de Assis.
Beijos
Oi, Thiana!
ResponderExcluirAdorei que a autora tenha colocado elementos para a representatividade. Com certeza devem vir a existir mais livros assim.
Ouço muita gente falar da série Irmandade na Adaga Negra, sempre tive curiosidade, mas é uma série extensa demais.
Fiquei curiosa com o livro "Entrelace". ^^
Parabéns pela entrevista!
Beijão!
http://www.lagarota.com.br/
http://www.asmeninasqueleemlivros.com/
Olá,
ResponderExcluirEstou muito feliz em saber que a Diana está crescendo cada vez mais. Já li várias resenhas de seus livros e tenho muita vontade em fazer a leitura, mas até hoje não surgiu uma oportunidade, só que ainda estou no aguardo. Adorei a entrevista, me ajudou a conhecer melhor o trabalho da autora! ♥
→ desencaixados.com
Oi, tudo bom?
ResponderExcluirAdorei a entrevista, gostei que a autora tenha colocado alguns elementos representativos. Por mais livros assim, por favor! Ainda não li "A Irmandade da Adaga Negra" por ser uma série enorme, mas tenho vontade. O livro "Entrelace" me chamou mais a atenção, espero lê-lo em breve. Parabéns pela entrevista.
Beijos, Rob
www.estantedarob.com.br
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei a entrevista e gostei muito da autora, o fato dela querer uma representatividade para os deficientes é muito legal, porque raramente vemos livros em que esses personagens se aceitam de verdade, então a ideia dela é realmente interessante, fiquei curiosa pra ler os livros pois não os conhecia até então. Vou por na minha listinha, beijos.
Oieee que entrevista mega interessante... Não conhecia a autora é as suas obras, mas achei bem interessante o seu jeito de escrever pelo que disse na entrevista... É bem raro termos livros no qual os personagens tem alguma deficiência e isso despertou minha curiosidade.
ResponderExcluirBeijos
Adorei a entrevista e a autora parece ser super gente fina! Adoro esses quadros de entrevista porque eles possibilitam que o leitor conheça melhor os autores. Estou com Uma Chance Para Recomeçar na lista de leituras obrigatórias do mês de abril.
ResponderExcluirbeijinhos!
Olá!
ResponderExcluirAdorei poder conhecer um pouco mais da autora! Já tinha ouvido falar sobre ela é seu livro, mas jamais imaginaria que ela possui uma deficiência e por isso alguns personagens são retratados assim.
Beijos.
Oi! Já tinha lido algumas resenhas do livro Uma Chance para Recomeçar, e pelos comentários excelentes não pude deixar de ficar curiosa com a história. Adorei conhecer melhor sobre a autora e a ideia de buscar representatividade nos livros para pessoas com deficiência me fez ter ainda mais interesse em conhecer sua escrita. Muito sucesso! :*
ResponderExcluirOlá!! :)
ResponderExcluirEu não conhecia a autora, mas o livro sim, e acho que a entrevista foi interessante por isso, para saber quem esta por tras... :)
Bem, foi bom saber de onde veio o poema inicial, e também desse bloqueio criativo que melhorou a história! :)
Boas leituras!! ;)
no-conforto-dos-livros.webnode.com
Oie
ResponderExcluirque bela entrevista, fico feliz pela autora, eu já tenho um aqui dela e estou ansiosa para começar ainda mais pós está entrevista, sempre da uma animação conhecer mais sobre quem esta escrevendo pois me sinto mais conectada com a história
beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Que entrevista mais interessante! Não sabia que a autora tinha deficiência, por exemplo! E acredito muito quando ela se vê representada em personagens com deficiencia, pois também me vejo representada com personagens com as mesmas caracteristicas que eu. A dedicação que ela tem também dá a criação dos mesmos é maravilhosa!
ResponderExcluirFiquei encantada com o trabalho da autora e com sua entrevista!
Abraços!
www.asmeninasqueleemlivros.com
Olá Thiana! Que bom conhecer um pouco sobre uma autora brasileira. Confesso que ainda não conhecia nem a autora e nem seus livros, mas fiquei encantada pelo enredo e pretendo ler o mais rápido possível. Parabéns pela iniciativa em entrevistar a autora, ajuda muito a divulgar o trabalho. Sucesso para a Diana e para o seu blog também.
ResponderExcluirOlá,
ExcluirQuem bom que curtiu a entrevista e espero que possa conferir os livros da Diana.
Bj